segunda-feira, 24 de maio de 2010

Imitação Frustrada


Desde já, intimo o leitor a encarar este texto com outros olhos. Esta leitura não deve ser feita como quem apenas ouve o que o outro tem a dizer, e sim, como alguém que dialoga, que pergunta, que discute quando não concorda. Para que, desta forma, meu caro leitor, você entenda o texto como vivo e, também, como parte de uma interação inteiramente pessoal entre eu, o autor, e você. E assim, parafraseando Machado de Assis, penetre a sutileza de meu pensamento.

Quando minha professora me contou sobre as críticas positivas quanto a minha ousadia em conversar, em minha última redação, com as corretoras que a corrigiriam, me intrigou o fato de tal redação ser tratada como ousada. Responda-me leitor, por que “ousada”? Não seria mais do que normal um autor, que expõe seu âmago ao leitor, tratá-lo, no mínimo, com um certo grau de intimidade? Pois afinal, se não fosse assim, porque eu escreveria? Mais ainda, por que você, leitor, estaria lendo esta redação? Se você não me é íntimo e não deseja aprofundar esta conversa filosófica e metalingüística que iniciamos, vá embora! Feche este blog e pare de ler.

Mas você não fechou, nem parou de ler. Você aceitou meu convite a continuarmos esta conversa, corroborando ainda mais minha tese de que estamos dialogando. Ouça minha voz ecoando em sua mente. Abstraia-se desta folha e vá até a sala da Ime-Ita onde provavelmente me conheceu, ou ainda conhecerá, e imagine a linha que liga seus olhos aos meus enquanto converso contigo. Você não está lendo neste momento. Você está ouvindo minhas palavras serem ditas em alto e bom som. Ouça, veja, sinta a minha presença.

E agora responda. Discuta. Concorde e discorde de minhas palavras. Cumpra seu papel como interlocutor deste canal que nós permitimos ser aberto. Mas eu não preciso lhe dizer para fazer isto. Pois já o fez. Eu não governo seu pensamento. Eu não precisava ter dito desde o início que estávamos conversando para sua mente opinar sobre as afirmações que eu fiz. Ela fez tudo por si só, o que eu fiz foi apenas permitir a você a consciência desta conversa, e talvez seja por isso que os estudiosos tratam os diálogos com o leitor como incomuns. Não porque eles são raros, mas sim, porque poucos leitores têm a consciência de que o fazem.

Claro que, só entenderão este textos na sua plenitude aqueles que se permitirem ouvir o diálogo que se é feito nas entrelinhas do texto. Minha proposta aqui é “tentar” abrir o canal deste “papo leitor-autor”, porém, não sou Machado de Assis, e por isso, é muito provável que a frustração seja a única conseqüência a mim deste texto. Mas tudo bem, vá ler Machado e compreender o que eu falo. Ele que era o bruxo das palavras, não eu.

0 comentários: