quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ensino superior restrito como deve ser, mas não igual ao nosso

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Ensino superior restrito como deve ser, mas não igual ao nosso

Pessoas não são iguais. A única igualdade que compartilhamos, ou pelo menos deveríamos, é a igualdade de condições. E só. Não adianta bater o pé, criticar-me de preconceituoso ou promotor da exclusão social; o fato é que o ensino superior não é para todos. É para uma minoria, bem-dotada de intelecto e que faz por merecer o prestígio social o qual possui. Se esta minoria é composta exclusivamente de herdeiros de boa linhagem e melhor situação financeira, em detrimento dos poucos esperançosos de baixa renda que aspiram à universidade, este sim é o mal que deve ser combatido, pois se opõe a igualdade de condições.

Promover a igualdade de condições não é escancarar as portas de nossas universidades através de cotas e provas de qualidade cada vez menor para aprovar pessoas que não têm as mínimas condições intelectuais de lá estudar. Promover a igualdade de condições significa desenvolver uma educação básica de qualidade – esta sim a que todos têm o direito – para qualquer um desejoso de cursar o ensino superior, independentemente de etnia, classe social, deficiência física ou não. Significa dar as condições mínimas para que qualquer cidadão tenha recursos, providos de fontes externas, de realizar o que quiser.

É muito fácil para qualquer político inescrupuloso, visando obter cada vez mais votos, convencer toda uma massa populacional de que, qualquer que seja o nível educacional dela, ela tem o direito de cursar o ensino superior, já que a minoria que tem uma vida de estabilidade financeira nesse país de forma lícita e desprovida de sorte vem destas universidades. Eles iludem o povo confundindo-o que o direito de ter as mínimas condições para realizar um concurso é o mesmo que o direito de cursar. E não é.

Pior ainda, criam em toda a nação a cultura de que o ensino superior é o único modo de se obter o sucesso e qualquer outro meio sempre está fadado ao fracasso. Fato que não só da origem ao único país do mundo onde toda sua população deseja entrar para a faculdade, não por questão de sonho legítimo, mas por desejo inevitável; mas também dá origem a um sistema falho e corrupto de vestibulares para as nossas decadentes universidades públicas e para a minoria ainda menor de universidades particulares que tem algum reconhecimento, já que as ‘sem valor”, devido a demanda cada vez maior dos infelizes que não passam no vestibular, têm seus números cada vez maiores.

Só o que podemos perceber neste contexto é uma demanda por profissionais com ou sem ensino superior cada vez maior não ser atendida, já que muitos são os graduados que só possuem o diploma mas não a capacidade de exercer suas profissões e poucos são os profissionais das áreas as quais não exigem o canudo. E não contente com o colapso no mercado de trabalho por qual inevitavelmente o Brasil se aproxima, vemos perplexos o nascimento de uma nação que, enganada por seus políticos aproveitadores, torna-se cada vez mais infeliz por não ter realizado o sonho que não era seu.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Apenas o nós

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Apenas o nós

“Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que, desde a neutralização histórica da religião, são livres para entrar em qualquer uma das inúmeras seitas. Mas liberdade da escolha da ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, revela-se em todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa.”

T.W.Adorno

Até que ponto nossos pensamentos e atitudes são verdadeiramente nossos? Até que ponto conseguimos diferenciar as ideologias advindas de nossa essência das advindas da influência exterior? Existe uma fronteira que as limitem? Não, não há. Não há ponto. Nem mesmo existe campo para o que chamamos de “eu interior”. Tudo que você é, ou pensa que é, é, na verdade, um fruto, quase um filho, do que as pessoas querem que você seja. Assim, como também, as pessoas que estão a nossa volta não são elas mesmas, mas sim, fruto do que influenciamos elas a serem. E não há meio termo: tudo é influência, nada é original.

Isso significa que abolimos de vez aquilo que os ignorantes chamam de “ter personalidade?” Sim, se o significado de personalidade for associado ao pensamento medíocre, e egoísta, de que o homem tem um ser interior, com seus próprios ideais, por qual devemos dedicar toda nossa existência e jamais tentar mudá-lo, mesmo que isto signifique ir contra o bom convívio dos próximos. Atribuir personalidade a um ser que acreditamos ser o nosso “eu interior” só demonstra que esquecemos de que, quando nascemos, éramos cascas vazias chamadas “bebês”, cujas funções terrenas eram somente defecar e amar aquele que nos alimentava, desprovidas de qualquer ideologia consciente. Ideologia essa que só criamos, e continuamos a criar todos os dias, conforme somos influenciados no nosso viver.

Nada do que fazemos é original. Nem mesmo a atitude que por vezes julgamos tomar contra a maré pode ser considerada tal. A verdade é que o homem, em todo seu desejo de se reafirmar como humano, julga que, no exercício de sua utópica personalidade, adotar uma ideologia o diferenciará da maioria. Porém, tal atitude, no final, só demonstra que todo seu desejo é, na realidade, uma ilusão e que o que, verdadeiramente figura tal adoção, é a subjetiva revelação de coerções econômicas. E neste ponto, não há nada mais comum do que ser influenciado a adotar ideologias que favoreçam a sua pessoa.

O homem não é um ser único. Ele é a fusão de ideologias e sentimentos de todos que estão a sua volta. Como uma gigantesca teia, o mundo interconecta as mentes de todos os seres viventes em um colossal tráfego de influências. Note que interconectar não significa um “pensamento” ou “tendência” universal, mas sim que tudo influencia as ações de todos. Portanto, por mais que anti-liberdade que possa parecer: não existe o eu, apenas o nós.

domingo, 19 de setembro de 2010

O exercício da mutabilidade.

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O exercício da mutabilidade.

Os ignorantes tendem a ter os pensamentos errôneos de que as pessoas devem sempre “ser o que são”, jamais permitir que outros as influenciem e que as mudem. Uns até chamam isso de “ter personalidade”. Porém, esquecem que a sociedade e o ser humano, em seu âmago, são essencialmente mutáveis e que viver também significa errar e aprender a não fazê-lo novamente através de mudanças. Mudanças estas, naturais, que justificam toda nossa evolução e figuram toda a beleza do que é ser humano, ou seja, o desejo de mudar e evoluir.

Ninguém pode ser estático. Pelo menos, não deveria. Aqueles que resistem às revoluções ideológicas e sociais, que vivemos todos os dias, apenas pelo fato de desconsiderarem e rejeitarem tudo que é novo, não conseguem evoluir. Não conseguem porque se conformam na inércia que permitem suas vidas permanecer. É claro que estar aberto a novos pensamentos e perspectivas não significa adotar como verdade absoluta toda e qualquer ideologia que por nós transcorra, mas sim, estar propenso a estudar e questionar, de todos os ângulos possíveis, posicionamentos diferentes dos nossos.

Ser humano também significa mudar seu próprio pensamento para aceitar as diferenças de nossa sociedade. Significa mudar seu ponto de vista para tentar entender o pensamento de outrem e deixar, se natural for, que este novo pensamento seja agora o seu próprio. É assim que estamos evoluindo, embora a pequenos passos, de uma sociedade segregada por credos e etnias para uma sociedade única e universalmente acolhedora. Em um mundo, em as distâncias foram tão reduzidas pela tecnologia e no qual coexistem bilhões de pessoas, cada uma com sua crença, não há como não desejarmos mudanças ideológicas que promovam a mútua aceitação e a paz.

É isso que há de mais belo no homem: o desejo de mudar para evoluir. O desejo de analisar nossos erros do passado e mudar nossos pontos de vista. De estar propenso a posicionamentos divergentes dos nossos para que, em paz, convivamos com o próximo. De permitimos nossas vidas navegarem contra a maré de mediocridade dos ignorantes que não toleram mudanças. Enfim, é no exercício de nossa mutabilidade que, verdadeiramente, nos reafirmamos como humanos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Reescrevendo o destino (Rascunho)

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Reescrevendo o destino

Embora minha paixão pelo estudo esteja atrelada às ciências exatas, conservo em meu âmago um profundo deslumbramento pela história. Ciência essa que incendiou minha vida quando, pela primeira vez, tive aula com um professor “sério” dessa disciplina. Esse professor, hoje diretor de uma das unidades do curso Elite do Rio de Janeiro, ensinou-me que a chave para entender o futuro reside no estudo do passado, pois, entender como a humanidade chegou até onde estamos e não repetir os erros que ela cometeu, nos guiará no caminho de um mundo melhor.

Quando a bomba nuclear “Little Boy” foi lançada em 1945 pelos Aliados contra a cidade nipônica de Hiroshima matando centenas de milhares de civis, ato considerado por muitos como totalmente desnecessário, poucos acreditariam que os mesmos Aliados teriam a audácia de lançar outra bomba, igualmente destrutiva, contra a cidade portuária de Nagasaki três dias depois. Dado o importante papel que teve tal demonstração de poder, através deste ato terrorista de estado, que posteriormente culminou com a corrida armamentista entre os EUA e a União Soviética nos anos de guerra fria, figura-se extremamente clara a necessidade de compreender este passado para questões que perduram até os dias de hoje.

Como sabemos, o Brasil, em sua intensa busca por grandes papéis no cenário mundial, recentemente colocou-se em uma situação de risco ao se contrapor aos EUA ao defender o Irã em seu programa de energia nuclear como forma de criticar a Agência Internacional de Energia Atômica e seu Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Tratado este, em vigor desde 1970, que deveria restringir o desenvolvimento de tecnologia nuclear para uso bélico dado o impacto psicológico que tal uso provocou no mundo após as bombas lançadas no Japão, e não ser uma forma de controle tecnológico por partes dos países ricos sobre os países menos desenvolvidos, como o Brasil.

Seria preciso mais uma Hiroshima para que o mundo finalmente compreendesse a importância real de levar a sério estes tratados pacifistas ao invés de usá-los como instrumentos políticos? É tão melhor assim ignorar o passado, insistir no erro e desencadear milhões de mortes por todo o mundo através de simples decisões de poucos que controlam o poder? Será preciso mesmo outro muro de Berlim em Israel? Outro Pinochet na Venezuela? Outro Afeganistão no Irã? Por que repetir os erros de nosso passado quando já sabemos o triste final dessa história? Talvez, se todos nós tivéssemos aulas de história com professores como o que tive, pudéssemos juntos, não só compreender o nosso presente e este sombrio futuro que nos aguarda, mas tomar as atitudes certas, com base no estudo de nosso passado, de nossa história, e assim, reescrever nosso destino.

Indesejável

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Há um conto de H. G. Wells, chamado “A terra dos cegos”, que narra o esforço de um homem como visão normal para persuadir uma população cega de que ele possui um sentido do qual ela é destituída; fracassa, e afinal a população decide arrancar-lhe os olhos para curá-lo de sua ilusão.

Proposta:

Discuta a idéia central do conto de Wells, comparando-a com a do ditado popular: “Em terra de cego quem tem um olho é rei”. Em sua opinião essas idéias são antagônicas ou você vê um modo de conciliá-las?

Indesejável

Nem sempre o que é motivo de orgulho e idolatria também não pode ser considerado incômodo e repulsivo. Não há metáforas mais perfeitas sobre a reação dos medíocres quanto à ascensão daqueles que fogem da normalidade do que a do dito popular “Em terra de cego quem tem um olho é rei” e a do conto “A terra dos cegos” de H. G. Wells. Reações aparentemente antagônicas, mas que se conciliam perfeitamente no pensamento medíocre do ser humano: primeiro a aceitação, depois a exclusão.

Presencie este pequeno ensaio. Imagine um adolescente dedicado nos estudos, oriundo de família pobre e ignorante e que, depois de grande esforço e engajamento das raríssimas oportunidades que teve, consegue ir além das expectativas de sua família e assumir os riscos da discriminação que os esclarecidos se submetem. Poucas são as famílias, verdadeiras famílias, que não se orgulhariam em polvorosa alegria com a ascensão de seu filho pródigo. Seu nome seria motivo de celebrações, rodaria as bocas das tias que orgulhosamente profeririam elogios de seu sobrinho estudioso, que talvez nem seja tão estudioso, mas que destoou da normalidade de seu meio, de seu âmbito familiar. Enfim, tornou-se o “rei” da sua “terra dos cegos”.

Infelizmente, como já dito antes, assumir a condição de esclarecido o torna discriminado, diferente. Diferença que logo se torna um incômodo. Um repulsa que aos poucos escurece o coração dos medíocres que vêem, nos bens sucedidos, uma lembrança da sua própria condição de eterna ignorância. E a família, que antes ostentava a medalha de orgulho nº 1, inicia seu gradual processo de segregação quanto ao seu filho, antes pródigo, agora indesejável. E os assuntos para as conversas, aos poucos, evanescem. E os convites para os almoços de fim de semana deixam de ser entregues. E no final, como no grosseiro desfecho do conto de H. G. Wells, a virtude geradora de toda discussão tem um triste final: a total exclusão daquele que era esclarecido.

Ou seja, não há o confronto de idéias antagônicas entre a presente no dito popular e a do conto de Wells. Ambas se conciliam no fato de que as reações da medíocre maioria da terra dos cegos figuram uma após a outra, logo, se completam.

sábado, 7 de agosto de 2010

À procura da felicidade

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A felicidade está em tudo que se faz, em tudo que é. A felicidade não é algo a ser conquistado, é algo a ser alcançado através de atitude, e não de trabalho ou de dinheiro. Aliás, dinheiro nenhum é capaz de trazer felicidade a alguém. Ele é apenas um “bônus” que ganhamos advindo do esforço físico e mental que ocupamos nossos corpos na hora de realizarmos aquele trabalho no qual sentimos prazer ao fazer. E se não sentimos prazer ao realizá-lo, estamos iludidos achando que é no dinheiro que encontraremos a felicidade, o nosso objetivo de vida. A felicidade, na verdade, está bem perto de nós. Ela está no prazer e na satisfação que sentimos ao fazer tudo pelo qual somos responsáveis, inclusive por nós mesmos.

Muitos diriam, como uma resposta automática, que o prazer deles está em não fazer nada, apenas “comer, beber e dormir”. Diriam que não importa o trabalho a que submetessem, nunca encontrariam prazer e felicidade lá. Pode até ser que tais afirmações sejam verdadeiras, porém, maior do que este argumento irrelevante, típico daqueles que vivem no ócio, quantos são aqueles que não fariam tudo “valer a pena” se não pela felicidade alheia, seja de familiares ou amigos; ou pela felicidade própria, através da simples satisfação de fazer algo bem feito? Fazer valer a pena, depois de um longo dia de trabalho, ter o prazer de conversar futilidades com os amigos na volta para casa. E depois que chegasse a ela, cansado, ver o sorriso de uma filha que só estava acordada por esperar a tua chegada. Não é isso que nos traz felicidade? Levar a felicidade aos outros que, parafraseando “O Pequeno Príncipe”, somos eternamente responsáveis pelo fato de cativarmo-lhes?

Um sorriso exausto, mas puro, de uma esposa que enxergou em ti a mesma simplicidade adorável que encontraste nela. Um sorriso agradecido de um amigo que simplesmente sorri por ser teu amigo. Um sorriso de satisfação que vemos em nossa própria face quando olhamos no espelho relembrando tudo que fizemos para chegar até ali. O sorriso patriótico de um povo quando seu coração vibra ao marchar do desfile de sete de setembro. Um sorriso espontâneo quando lemos, e nos relembramos, em textos como este, que a felicidade está em tudo, seja simples ou complexo, e de que não precisamos ir tão longe para alcançá-la. Ou melhor, tão perto, que diríamos que está em baixo de nossos narizes: no sorriso sincero que atiçamos em nós mesmos, em familiares e amigos, enfim, em todos aqueles que amamos.

domingo, 11 de julho de 2010

Aquecimento Global

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Eu já fui um desses “homens verdes extremistas” que lutavam com todas as forças pela fomentação da consciência ambiental na nossa sociedade. Al Gore tornara-se meu mestre e seu documentário sobre o aquecimento global era repetido ativamente em quase toda palavra que eu pronunciava. Lembro-me também da exposição do assunto que eu fizera perante comandantes e companheiros de turma na minha antiga escola militar, trabalho que a muitos emocionou e, posteriormente, me rendeu premiações e convites de escolas e ONGs interessadas em minha palestra. Porém, hoje, três anos depois de minha onda verde, as únicas afirmações que posso fazer quanto a isso são de que sou cético e de que não acredito no aquecimento global, pelo menos, não da forma como nos foi mostrado.

Eu não sou como um cavalo de carroça que só consegue olhar para frente. Mesmo naquela minha fase de ambientalista chato associada com a ingenuidade juvenil própria da idade, na época quinze anos, eu já sabia as implicações de defender assiduamente um tema polêmico como é o aquecimento global. Tentar argumentar com base em dados estatísticos e fotos sensacionalistas que apontavam o homem, com sua intensa emissão de CO2, como o principal contribuinte do aumento do efeito estufa, sempre fora fácil demais visto que o único argumento dos céticos era a indesejável e pessimista teoria de que este aquecimento provém de um processo cíclico, logo, inevitável. Entretanto, é sabido da cultura popular que o que é fácil na maioria das vezes não é correto e, mesmo com toda minha precaução quanto a defender algo eticamente correto, mas com pouca fundamentação científica, nada me preparara para a bomba que dizimaria a imagem de meu herói.

Denúncias quanto à manipulação de dados, suborno de empresas ligadas com o desenvolvimento de combustíveis verdes, dúvidas quanto à validade do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) da ONU, e claro, a explicitação de que meu herói Al Gore, ex-vice-presidente americano, seria o principal mentor de todas essas fraudes, afundaram por completo qualquer senso ético que outrora havia em mim. Os sentimentos de traído e usado, típicos de alguém inexperiente que termina uma relação, afloraram em mim quando descobri a falsidade de tudo aquilo que um dia acreditei.

Não estou justificando que a Terra é como um sorvete que derrete, no qual temos de comer dele o mais rápido possível antes que ele se liquefaça e descubramos que poderíamos ter aproveitado mais. Nem mesmo me arrependo de ter tentado motivas nas pessoas o desejo ético de proteger nossos ecossistemas. Me arrependo apenas de ter confiado cegamente na “bondade” dos homens e não perceber a luz que a ciência estava a me mostrar. Pelo menos, aprendo hoje que, embora o homem não seja o grande culpado pelo aquecimento global, sua ganância e egoísmo são as razões dos principais problemas que ele vive, mas que logo, logo a natureza tratará de extinguir.

domingo, 6 de junho de 2010

Não estamos sozinhos

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Junho não teve um início bom. Acho que nesses últimos vinte meses que decidi prestar o concurso para o Instituto Militar de Engenharia, nunca me senti tão estressado, tão mal, tão desconfiante. Nem nas vésperas da prova em outubro do ano passado, eu me senti tão desmoralizado como eu me sinto agora. Olho para minhas mãos e fito os inúmeros pedaços de pele que se descolam de minhas palmas. O médico disse que isso é devido ao estresse, à tensão. Acho que a última vez que tive isso foi quando decidi largar a Aeronáutica, deixar os irmãos que eu fizera na Epcar, chutar o balde para uma vida que eu levara quatro anos para construir. E agora, cá estou fitando o vazio. Com dor de cabeça, com sono, com fome e sem vontade de comer. Tentando em vão estudar os “delta-G” e “delta-H” da vida. Agora eu tenho certeza, junho não teve um início bom.

Olho mais uma vez o livro de Química. Foram as fórmulas que se embaralharam em meio às palavras ou será mesmo esta dor de cabeça que está me deixando maluco? Canso de tentar achar esta resposta irrelevante e desisto de vez de estudar. A dor de cabeça continua e meu coração aceleradamente bate pedindo que eu tome alguma atitude. Ouço o sinal do intervalo tocar. Vejo o Marco Aurélio sair da sala. Amaldiçôo-me por saber que perderia mais uma aula de Química. Olho para os lados e não vejo ninguém me convencer a fazer o contrário. Chega! Hora de fazer alguma coisa. Recolho meu material e vou embora do curso. Para onde? Não faço idéia.

É estranho andar na rua. Rostos e mais rostos desconhecidos. Mas todos familiarmente escondendo algum tipo de preocupação. Olho para o rosto de uma mulher a espera de um ônibus. Seu olhar cruza o meu. Ela desvia o olhar. Eu conto até dois. Pronto, ela olhou de novo. É engraçado né? Nunca conseguimos ignorar se percebemos alguém nos fitando. É uma reação instantânea. Mas porque? Qual o sentido de se querer olhar alguém de novo sabendo que isso é o máximo que será feito? Nunca iremos nos falar. Compartilhar nossas preocupações. Só iremos olhar, não enxergar. O que será que as pessoas vêem quando olham para mim? “Meu Deus, que nariz grande!” Ou será “Ime-Ita? É maluco!”. Devo ser... Para estar viajando assim com um simples olhar de uma mulher que nem é bonita. Caramba cara, volta pro curso e recomece a estudar.

Mas algo me diz pra continuar ali. Eis que vejo um ônibus verde e branco se aproximar e parar no ponto. Número: 762... Destino ou não, é melhor eu fazer isso. Lembro da noite anterior: a ligação, a elevação na voz, as discussões... É fogo namorar em ano de Ime-Ita. Imagine dois anos então... Namorar alguém que compartilha dos mesmos sonhos que você. Que estuda contigo todos os dias. Que se estressa tanto ou até mais que você pelos mesmos motivos. E que cujo relacionamento vai ruindo aos poucos. Pois os olhos vão se acostumando cada vez mais a temida rotina. Olhos acostumados, brigas sem motivo. Estes não são os pesadelos que afligem todo casal? E os sonhos compartilhados do princípio tornam-se empecilhos para o futuro da relação. E o amor sentido pela felicidade um do outro sobrepõe a vontade de estar-se junto. E eu subo no ônibus que me leva até a casa dela. Nos beijamos. Choramos juntos. Nos beijamos mais uma vez. E terminamos.

O que falta para este início de junho ser o pior que já tive? Não consigo estudar. Não tenho mais minha namorada. A dor de cabeça agora é uma constante. Meu sonho de Ime está por um fio. O que será que falta? Repasso rapidamente a semana em minha cabeça. As aulas na auto-escola, o passeio ao Ita... Está aí uma sorte da qual não devo reclamar: o fato de termos encontrado, na volta de São José dos Campos, minha saudosa turma da AFA na parada que fizemos na Dutra. Araújo, Ilton, Irineu, Lobo, Hélton... Tantos rostos conhecidos e ao mesmo tempo tão diferentes. As saudades dos anos de Epcar afloram. Da turma que eu deixara. Dos irmãos por todo o Brasil que eu fizera. Da minha família... E eu ansioso abraço a todos, pergunto por todos. “Como vocês estão? Já voaram?” Sim. Eles já voaram. Este é o requisito para todo Cadete-Aviador no segundo ano da AFA. E também, o sonho de todo aluno da Epcar, como o meu também fora. Se eu tivesse prosseguido na Aeronáutica, hoje eu já teria feito o vôo solo. Estaria bebendo, junto com eles, as glórias da elite da aviação militar. Festejando, rindo... Com meus irmãos. Estaria sim, se não tivesse desistido.

E agora, o fardo de desistir em prol desse caminho incerto para o Ime torna-se um peso quase insuportável. Eu desisti da AFA. Desisti da Escola Naval. No ano em que sai da Epcar, eu passei na UFRJ e, igualmente, desisti. Já são quase dois anos. Dois anos abrindo mão daquilo que muitos querem. Dois anos abrindo mão daquilo que um dia meus pais sequer sonharam em alcançar. Tudo por causa do Ime... E eu ouço meus pais falarem. Minha família me questionar. Meus amigos me criticarem. Aqueles que não entendem me seduzirem com palavras acolhedoras aos ouvidos de quem há muito está imerso nesta vida de IME-ITA. E eu me lembro daqueles que como eu estiveram nesta mesma situação. Que desistiram e hoje estão bem. Realizando cursos no exterior. Vivendo a vida que há tempos estou me privando. A troco de nada. Sem resultados. Nada.

O que eu farei agora? Estou cansado. Desmotivado. Abro meus olhos e vejo o relógio: 11:00... Mais um dia dormindo até mais tarde. Mais um dia sem estudar. Daqui a pouco tem simulado de Química. A certeza de eu me foder é certa. Levanto e tomo um banho. Arrumo minha mochila e saio em direção ao curso. Comer pra quê? Só pra lembrar que a comida já não tem gosto em minha língua? Não preciso disso. Pelo menos não agora. Eu preciso é de alguém para falar comigo. Me jogar pra cima. Esmurrar minha cara pelo babaca que tenho sido para que, finalmente, caia a ficha de que eu tenho que voltar a estudar. Olho para a data em meu celular: “Puta que Pariu! Junho tá foda!”

Sento na carteira azul do Elite. Olho para o quadro preso na parede azul da sala. Vejo um aluno passar ao meu lado com aquela velha camisa azul do Elite. Porra! Não agüento mais azul. Acho que eu preferia levar um tiro de 12 na cabeça a ter de voltar aqui no Elite ano que vem para falar sobre o IME. Quanta confiança hein... Já falo do IME como se fosse certo eu estar lá ano que vem. Parece até que o mês de junho está tudo numa boa... Fecho meus olhos e abaixo a cabeça. Até eu estou conseguindo me criticar por sonhar com o IME... Tá fogo...

Quando o Élder entrou na sala, fiquei imaginando se ele conseguiria me falar aquilo que eu tanto ansiava. Para minha surpresa, todas as minhas esperanças de reaver minha motivação foram expurgadas no momento em que ele abriu a boca. “Hoje quem está desmotivado sou eu. Quero que alguém se levante e vá lá na frente falar alguma coisa pra me motivar.” Quê!? Tá de sacanagem! Agora fudeu! O cara que deveria tentar me motivar a estar aqui disse que está desmotivado. Ferrou mesmo. Vou me levantar e ir embora pra UFRJ agora.

“Raquel! Levanta e vai lá.” Disse ele para a aluna que muito contrariada se levantava. Fiquei curioso no momento em que ela começou a falar. Apesar de sua aparente timidez e a falta de um discurso previamente elaborado, sua voz logo se tornou segura e todos naquela sala, aos poucos, iam vendo no relato dela os mesmos medos comuns. E assim, a ressonância das palavras dela fazia com que as pessoas se identificassem, pois afinal, aquela ali não era um professor, era um aluno. Aluno como todos nós. E quando o Élder perguntou quantas vezes ela chorara culpando a pressão dentro daquelas paredes da IME-ITA, todos concordaram acenando a cabeça quando ela disse que foram inúmeras. Era disso que eu precisava. Era disso que eu tinha me esquecido quando a desconfiança em relação ao IME aportou em meu coração. Aquela mulher conseguira despertar em mim a lembrança que há muito eu havia deixado na Epcar.

A dor de cabeça sumira. A vontade de estudar e a motivação para continuar naquela sala de IME-ITA retornavam ao meu âmago. Olhei para o lado e encontrei os olhos da Hannah. Ela apontava para o tablado e me dizia para subir lá e falar também. Ela sabia que eu tinha algo a dizer. Como sempre soube nestes quase dois anos que estivemos juntos. Meus olhos me revelavam. Eu tinha algo a dizer. Chamei o Élder e, contrariando todo meu corpo de jovem que odeia falar na frente da turma, me levantei e subi no tablado para falar sobre meu péssimo início de junho.

A verdade é que quando subi naquele tablado, eu não sabia exatamente o que ia dizer. Nem de longe, eu imaginava que, um dia, falaria da minha vida daquele jeito. Para pessoas as quais eu conheço muito pouco. Para pessoas as quais eu nem conheço. E eu comecei o relato de minha semana. Como, até bem pouco tempo atrás, eu pensara em desistir. Relatei meu encontro com meus irmãos da Epcar. A pressão de não ter ido pra AFA ou pra Escola Naval. Até mesmo de meu término de namoro. Minhas mãos tremiam. Minhas pernas bambeavam. Apesar da minha mente estar segura no que se estava sendo dito, meu corpo não correspondia. E eu me sentei na cadeira para não cair e continuar a falar. Sabia que aquilo ali teria um propósito.

Lembrei da noite de quarta-feira enquanto voltávamos do Ita. Eu viera deitado no ônibus conversando com minha quase irmã Raíssa, do Elite da Tijuca, sobre como chegamos na IME-ITA. Lembro dela falando de sua turma da AFA a qual ela também encontrara na parada do ônibus. De como fora para ela desistir da AFA também. De como as pessoas reagiram ao saber que ela voltaria às salas de aula para prestar o IME. Mais um ano de estudos. Mais um ano se privando de tudo. Lembrei também das noites insones que passara conversando com meu amigo Biro-biro no alojamento. Sobre como era difícil se privar de tantas coisas dado o fato que ele próprio estudava há anos no Elite. Lembrei também dos “puxões de orelha” que levara da Raíssa quando ela percebeu o quão desfocado eu estava. E, conforme minhas palavras saiam de minha boca, eu percebia o quão importantes aquele dois já tinham se tornado em minha vida. E todo aquele sentimento, resgatado pela Raquel quando ela começara a falar, rapidamente fez sentido. E logo, todo meu propósito era alcançado. Eu finalmente chegar onde queria: o de que é o companheirismo que nos faz crescer, que nos motiva a continuar.

Lembrei de meus irmãos na Epcar, de meus irmãos na Tijuca, de meus irmãos em Madureira. De como eu havia crescido, não só intelectualmente com eles, mas também como pessoa. Dos dias em que acordávamos cedo. Xingávamos um ao outro. Discutíamos. E depois, juntos estudávamos. Nos motivávamos a ir em frente. Lembrei do dia do resultado do IME ano passado. Quando eu saíra cego pela portaria em direção à praia Vermelha quando eu vi que meu nome não estava na lista. Lembro de minha Hannah inconsolável. De como eu a abracei e ficamos olhando aquela praia da qual não faria parte de nosso futuro no ano seguinte. Não sabíamos o que dizer. Não havia nada a ser dito. Olhamos um para o outro e, mesmo com as lágrimas nos cegando, enxergamos um ao outro. E naqueles olhos eu vi a motivação para não desistir. Não importa o que tivesse acabado de acontecer: 2010 seria diferente.

Os rostos na minha frente olhavam para mim com uma expressão curiosa. Eu não sabia o que dizer. A emoção já tinha tomado conta de minhas palavras e eu nem sabia se o que eu estava dizendo fazia sentido. Foi quando o Élder então levantou e subiu no tablado. É claro que ele tinha algo a dizer. Ele, mais do que qualquer outra pessoa que eu conheço, saberia falar sobre tudo o que passamos, pois afinal, ele passara por tudo isso também. E o mais importante: não desistira. Foi assim que seu breve relato com o qual todos estavam acostumados a ouvir e a se identificar, aos poucos, foi tomado pela mesma emoção que tomara minhas palavras. O que víamos não era mais nosso coordenador lá na frente. Era nosso amigo e companheiro. Alguém que estava lá por que, realmente, só queria nos ajudar. E as lágrimas logo se formam em seus olhos e, em pouco tempo, já tomavam seu semblante. Eu olho para os lados, vejo muitos já chorando. Olho para minha ex-namorada e a vejo de cabeça abaixada. Olho para o meu amigo Leandro e aperto sua mão. Caramba, consegui!

O discurso agora gago do Élder termina e ele aperta a minha mão e sai pela porta. Todos os rostos inchados começam a me fitar. Beijo a bochecha de minha Hannah e levanto para beber água. Ao sair, dou um abraço bem forte na Alana que ainda tentava limpar as lágrimas. Continuo andando em direção ao bebedouro. Foi assim que meu Junho começou.

domingo, 30 de maio de 2010

Carta ao renascido Machado de Assis

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Carta ao renascido Machado de Assis:

Rio de Janeiro, 23 de maio de 2010.

Caro Machado de Assis,

Já que voltaste da eternidade, algo que, digamos, é muito raro hoje em dia, nada mais natural do que tratá-lo como um candidato a ser o “Salvador” desta cidade. Obviamente, não preciso lhe explicar como sobreviver nela, pois já aprendeste no momento em que reviveu, pois, se não o tivesse feito, com o ritmo desta estressada cidade, já estarias de novo morto. Meu intuito com esta carta é apenas lhe explicar como chegamos a esta caótica situação para que, desta forma, reconheça nos cidadãos cariocas o desejo pela vida que há muito lhes é negada, e assim, talvez, possas ajudá-los.

Lembre-se de tua infância pelas vielas do Morro do Livramento, onde desde cedo, perdera a inocência da vida na busca pelos teus sonhos. Hoje, só o que podemos vislumbrar são nossos morros gerando crianças igualmente sem inocência, mas também, sem nenhum sonho. O êxodo rural, aliado ao descaso de nosso governo corrupto quanto ao crescimento populacional de nossa cidade ao longo de tantos anos, superlotou nossos cortiços, e posteriormente, lotando até mesmo as periferias que são, na verdade, favelas oficiais fundadas com o dinheiro público. Quando puderes, assistas “Cidade de Deus” ou leias sobre a origem da “Vila Kennedy” e verás que, as favelas não são mais somente os lares de quem não tem onde morar, e sim, verdadeiras escolas de violência onde coexistem a raiva e a ignorância.

Pior ainda, é vermos, todos os dias, os limites destas “áreas de violência” serem cada vez mais abrangentes. Aliás, vermos tudo isto e vislumbrarmos os, teoricamente, nossos defensores não fazerem nada. Não há como não criticar o governo quando falo sobre os problemas de nossa cidade. Meu corpo se inflama só de pensar na palavra “político”. O povo carioca já não agüenta mais tanta corrupção e descaso quanto à nossa cidade. Faltam hospitais. Faltam escolas. Faltam até mesmo transportes e vias decentes para se ir trabalhar. O governo carioca, não satisfeito em isolar as periferias pela distância ao Centro, também não oferece sequer meio digno para o trabalhador ir ao emprego se matar de trabalhar. “Se matar de trabalhar” pois isto é a única coisa que essa vida infeliz lhes oferece. E assim, o trânsito fica confuso, fica estressado, fica parado. E tu perdes a pouca paciência que lhe resta, grita com o motorista do lado e volta de novo à cova com o tiro que levastes do motorista irritado do outro carro.

Questiono o senhor se perguntaste ao nosso bondoso Deus se é isto mesmo que está destinado aos cariocas desta cidade. Peço que, ou melhor, suplico a tua pessoa que ajudes este povo, visto que o último que ressuscitou foi o nosso Cristo que, de braços abertos, só deu as costas às periferias desta que outrora foi chamada de Cidade Maravilhosa.

Com a fé de que nos ajudará,

Alguém que mora na periferia.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Evoé, caro Machado

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Evoé, caro Machado,

A ti, que da genialidade foste filho,
Conto decepcionado – um relato revoltado -,
Impulsionado pela dor que te partilho.

Nossa cidade expoente,
A cada dia mais doente,
Pela má política,
Pela crise da educação,
Pela imparcialidade da crítica,
Por desorganização, corrupção,
Pela falência dos valores – outrora engrandecedores -,
Abandonados, em extinção.

Podes ver que o Cristo imponente,
Para Zona Sul está de frente,
De braços abertos pra ela,
Mas nessa cidade, até a divindade,
Está de costas pra favela!

E lá de cima, a cidade iluminada,
Lá embaixo engarrafada,
Num funil de grosseria.
O estresse explicaria,
Na constante correria,
O porquê da ignorância?
Se a cidade, desde a infância,
Crescera orgulhosa,
Não quer ser maravilhosa,
Pra mais uma geração?

Mas, se tão cedo dessa vida partiste,
Consolaste o sofrimento e a agonia,
De ver o Rio Belo triste,
Com o caos de hoje em dia.
Fruto de sementes que não plantaste,
Vede agora o Rio pobre,
Sem teu fio áureo-nobre,
Sem governo, sem povo; escapaste!
Assustado?
Abane a cabeça, Machado!

( Eduardo Igreja )

Imitação Frustrada

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Desde já, intimo o leitor a encarar este texto com outros olhos. Esta leitura não deve ser feita como quem apenas ouve o que o outro tem a dizer, e sim, como alguém que dialoga, que pergunta, que discute quando não concorda. Para que, desta forma, meu caro leitor, você entenda o texto como vivo e, também, como parte de uma interação inteiramente pessoal entre eu, o autor, e você. E assim, parafraseando Machado de Assis, penetre a sutileza de meu pensamento.

Quando minha professora me contou sobre as críticas positivas quanto a minha ousadia em conversar, em minha última redação, com as corretoras que a corrigiriam, me intrigou o fato de tal redação ser tratada como ousada. Responda-me leitor, por que “ousada”? Não seria mais do que normal um autor, que expõe seu âmago ao leitor, tratá-lo, no mínimo, com um certo grau de intimidade? Pois afinal, se não fosse assim, porque eu escreveria? Mais ainda, por que você, leitor, estaria lendo esta redação? Se você não me é íntimo e não deseja aprofundar esta conversa filosófica e metalingüística que iniciamos, vá embora! Feche este blog e pare de ler.

Mas você não fechou, nem parou de ler. Você aceitou meu convite a continuarmos esta conversa, corroborando ainda mais minha tese de que estamos dialogando. Ouça minha voz ecoando em sua mente. Abstraia-se desta folha e vá até a sala da Ime-Ita onde provavelmente me conheceu, ou ainda conhecerá, e imagine a linha que liga seus olhos aos meus enquanto converso contigo. Você não está lendo neste momento. Você está ouvindo minhas palavras serem ditas em alto e bom som. Ouça, veja, sinta a minha presença.

E agora responda. Discuta. Concorde e discorde de minhas palavras. Cumpra seu papel como interlocutor deste canal que nós permitimos ser aberto. Mas eu não preciso lhe dizer para fazer isto. Pois já o fez. Eu não governo seu pensamento. Eu não precisava ter dito desde o início que estávamos conversando para sua mente opinar sobre as afirmações que eu fiz. Ela fez tudo por si só, o que eu fiz foi apenas permitir a você a consciência desta conversa, e talvez seja por isso que os estudiosos tratam os diálogos com o leitor como incomuns. Não porque eles são raros, mas sim, porque poucos leitores têm a consciência de que o fazem.

Claro que, só entenderão este textos na sua plenitude aqueles que se permitirem ouvir o diálogo que se é feito nas entrelinhas do texto. Minha proposta aqui é “tentar” abrir o canal deste “papo leitor-autor”, porém, não sou Machado de Assis, e por isso, é muito provável que a frustração seja a única conseqüência a mim deste texto. Mas tudo bem, vá ler Machado e compreender o que eu falo. Ele que era o bruxo das palavras, não eu.

Bem vindo

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Primeiramente, gostaria de dar as boas-vindas aos visitantes que se dispuseram a vir ao meu blog. Hoje, no meu segundo post, gostaria de apresentá-los a proposta de meu blog. Antes de mais nada, falarei um pouco de minha pessoa.
Meu nome é Caio Sergio Parente Silva, atualmente estudo em um curso preparatório para os concursos IME e ITA. Sou ex-aluno da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, onde me formei em 2008. Moro no Rio de Janeiro, onde divido um apartamento com mais sete pessoas que estudam no mesmo curso que eu. Tenho dezoito anos, namoro e tenho um irmão mais novo no qual eu tento sempre elevar o desejo pelo saber da melhor forma que eu posso.
Como vocês verão no texto que seguirá a essa apresentação, eu tenho um objetivo muito claro ao iniciar este blog: melhorar minha capacidade de argumentação frente a tudo que eu um dia eu quiser opinar. Mais ainda, melhorar gradualmente meus textos através das sucessivas experiências de escrita neste blog para que, desta forma, consiga alcançar meu objetivo maior que é atiçar em meu povo o desejo de se rebelar contra este sistema corrupto e impune que vivemos no Brasil. E, embora não seja muito claro a forma como farei isso, não posso deixar passar em branco desejo tão forte em meu coração. Tentando me afastar o máximo possível das utopias que geralmente acompanham aqueles que anseiam por mudanças, mas ainda mantendo acesa a inocente chama da ambição dos jovens de mudar o mundo, lutarei da forma que puder para realizar esse sonho.
Os textos, que verão aqui, serão textos que representam tudo que penso. Eles não serão escritos apenas no intuito de testar a minha escrita, mas sim trazer alguma mensagem na qual o leitor possa refletir. Não são definidos os limites sobre a abrangência dos assuntos de meus textos. Nem mesmo se todos os textos serão escritos ou não por mim. Como disse no início, estudo em um curso preparatório e divido um apartamento com várias pessoas, meios em que, eventualmente, propicia-se debates sobre os mais diversos aspectos culturais de nossa sociedade.
Os leitores também perceberão que vários de meus textos terão o formato padrão de redação dissertativa-argumentativa. Tal fato acontecerá pois, em geral, tais textos serão escritos, sob um formato padrão, para poderem ser corrigidos pelas corretoras do curso onde estudo.
Agradeço a todos que puderem acompanhar este blog. Mais uma vez, sejam bem-vindos.

Pão e Circo, de novo.

Na semana passada, às vésperas da entrega de minha redação à professora Rosane, fui criticado por um fato, no mínimo, curioso. Meu colega de classe observara que, na maioria de meus textos, eu citava a histórica política romana do “Pão e Circo”. E era mesmo verdade. Quase todas as redações, em que eu criticava o governo, mencionavam tal política. Intrigado com isto, questionei-me se deveria dissertar sobre o regime cesariano de que tanto comento. Depois de tanto meditar, e ainda depois de uma inspirada manhã, decido não falar sobre ela, e sim, falar sobre o porquê de eu citá-la sempre.
Primeiramente, quando durante noite insone, refletia sobre minhas críticas ao governo, indaguei se meu leitor me levava a sério. Não, eu não sei mentir. E sim, se minha redação no Ime for defender um tema com o qual não concordo, sim eu vou me dar mal. Quando eu digo que meu objetivo aqui é conscientizar meu povo nesse país que tanto amo, eu não falo isto para tornar um argumento ainda mais pessoal como questão de estilo, e sim, para deixar bem claro ao leitor que este é meu âmago, meu íntimo. Eu não sei mentir, minhas palavras ainda são as de um jovem que inocentemente quer mudar o mundo e, enquanto a corrupção não deturpar meus ideais, lutarei como um revolucionário.
Fico imaginando o que se passa na mente das corretoras do Cecor quando lêem minhas redações. Será que elas as tratam como apenas mais outra redação a ser corrigida? Ou será que elas lêem mais uma vez para aprofundarem meu ideal? Sou tentado a dizer que elas optam pela primeira. Tenho certeza de que não escrevo tão bem e que minhas redações, nas mãos delas, são como nossos políticos em nossas televisões nos horários eleitorais: falam, falam, falam, e ninguém presta atenção.
Porém, desta vez, tenho certeza de que as corretoras saberão que estou falando com elas. Aliás, elas não. Você, que está lendo minha redação procurando erros gramaticais para me descontar valiosos pontos. Mas tudo bem. Aceito ser corrigido para que, através desse aprendizado, eu melhore meu poder de argumentação por meio das palavras. E, desta forma, alcance meu objetivo de vida que é abrir os olhos de meu povo para a política corrupta e impune que o Brasil vive. E ainda, para não perder o costume, conscientizar o brasileiro de que ele vive sob um regime de “Pão e Circo” e de que nós devemos, sim, nos rebelar.

sábado, 8 de maio de 2010

Os ignorantes não leem

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Parece que foi ontem minha 3ª série da escola. Ainda me lembro muito bem dos rostos curiosos que se voltavam a mim quando eu, com os meus 8 anos, andava, pra cima e pra baixo, com meu exemplar de 1200 páginas do Senhor dos Anéis do sulafricano J.R.R. Tolkien. Não, XDD eu não era uma criança nerd. o.O Pulava e brincava como todas as outras. Porém, já naquela época, eu começara a perceber que era um dos poucos que cultivava o hábito da leitura e, infelizmente, hoje sei que pertenço a uma juventude que não só lê pouco, como também, tem horror a fazê-lo.

Horror mesmo. Sem exagero. Milhões são os que entrariam em pânico se fossem incumbidos de ler alguma obra. Milhares são os que, antes de julgarem um livro pela capa, o julgariam pela largura. Inúmeros são os que nunca leram um livro por achá-los “chatos”, “monótonos”... E quanto mais pesquisamos sobre tal assunto, mais percebemos que incontáveis mesmos são as desculpas que o jovem dos dias de hoje tem para não ler: linguagem difícil, dificuldade em abstrair, falta de tempo, falta de figuras...

Obviamente, desculpas injustificáveis. Que só não são mais injustificáveis do que o fato dos pais e da escola, teoricamente os que deveriam ter acrescido o hábito da leitura a suas crianças, serem os maiores responsáveis por esse grotesco desábito. Foram estes que, mesmo sabendo da importância da leitura para a formação, não só profissional, quanto humana, da geração vindoura, trataram com descaso este bom costume há tanto mantido por nossos antepassados.

Infelizmente, além de muitos não o difundirem, também não vêem os poucos que cultivam tal hábito como exemplos a serem seguidos. Ao invés disso, os tratam irracionalmente como anormais. Como pessoas que preferem trocar a vida real por uma fictícia. E assim, através de um grosseiro preconceito, com maus olhos vêem este hábito. Desta forma, torna-se extremamente difícil a reimplantação da leitura na cultura deste novo século e a nossa perspectiva de mudança cada vez mais sombria.

Com certeza, uma das piores formas de se viver é viver sem perspectiva de mudanças. Totalmente pessimista, percebo que é do desejo de nossa sociedade capitalista que a leitura, não só seja escassa, como também restrita. Não é muito difícil deduzir que uma sociedade que lê, torna-se culta. Por sua vez, um povo culto não é interessante aos nossos governantes e empresários, que vêem nos ignorantes sua fonte de renda. E assim, na velha política do Pão e Circo, nosso povo se vê condenado à ignorância eterna. Pior de tudo, é saber que os ignorantes, que deveriam saber disso, nunca saberão de minhas palavras, ou das de qualquer um que se importe com a leitura do país, mesmo se este texto fosse publicado em um jornal. Pois afinal, os ignorantes não lêem.